04/08/2011

Defenda a sua zona de conforto

Você já deve ter ouvido isso umas 500 vezes: “a gente tem de sair da zona de conforto”. Normalmente, quando alguém fala isso, é sinal de que vai lhe entregar algum problema. Eu mesmo já disse a frase, e já a ouvi outras tantas vezes. O que ela significa?
A zona de conforto é uma região psicológica em que você não se sinta ameaçado. É uma fronteira mental: ali dentro você está bem, do lado de fora está o perigo – ou o desconhecido, o incômodo, o risco.
O problema da zona de conforto, dizem os especialistas em gestão de carreira, é que essa fronteira dá uma falsa sensação de segurança. Quando ocorre uma grande mudança (e as grandes mudanças estão sempre rondando nossa vida), quem está muito confortável leva um choque maior, e está menos preparado para sobreviver.
Em geral, os consultores se referem à zona de conforto como um lugar onde você fica “preso”  Sair dele, dizem, pode ser difícil, mas é bom para você
Como tantos conceitos em gestão de pessoas, a zona de conforto virou um clichê. E os clichês não nos ajudam muito na vida real. “Muitas vezes, a conversa sobre sair da zona de conforto é só um jargão para justificar mudanças”, diz Vlad Zachary, executivo chefe do site CareerConceptZ.com. Ele também defende a prática de sair da zona confortável, e dá alguns exemplos de como fazer isso. Entre as sugestões do consultor estão:
  • aceite projetos que obriguem você a desenvolver novas habilidades;
  • imponha-se uma rotina de almoçar com pessoas novas de vez em quando;
  • encare alguma deficiência, como falar em público. Pratique até melhorar
Não é preciso muita experiência, nem muito conhecimento, para concordar com esses (e vários outros) conselhos. Eles são meio óbvios. E, de certa forma, com tanto discurso sobre zona de conforto, a gente perde o sentido original: as pessoas devem sair dela de vez em quando. E com um propósito, quase paradoxal, de aumentar a sua zona de conforto.
A ideia é que você se aventure em algo um pouco diferente, de forma a conhecer uma nova realidade – e, quem sabe, incorporá-la ao seu conjunto de situações não ameaçadoras. Muito antigamente, chamava-se isso de “ter experiência”.
O risco de toda essa ênfase em sair da zona de conforto é passar a impressão de que a vida aventureira, arriscada, é a correta no ambiente de trabalho. Não é. É preciso assumir riscos, mas eles têm de ser calculados. E ninguém consegue assumir riscos o tempo todo.
Meu chute é que a gente deva sair da zona de conforto no máximo em 10% dos casos. Ou 20%, vá lá. A maior parte das nossas atividades deve estar dentro da fronteira do bem-estar. O que não significa apatia, é claro. Significa domínio das nossas ações. Previsibilidade. Segurança.
Afinal, nosso próprio estilo de vida é definido pelas várias zonas de conforto que construímos. Nós somos percebidos como a soma dos nossos comportamentos mais usuais. Quando estamos numa zona de conforto, não só estamos mais felizes, mas também nos comunicamos melhor, nos engajamos em menos conflitos, somos mais ouvidos, brincamos mais e, consequentemente, ficamos mais criativos… até para dar umas voltinhas fora da zona de conforto.
Por isso todo trabalho tem de ter sua parte confortável. A pausa do sorvete, algumas rotinas que você domine, os códigos combinados entre os colegas e, principalmente, a sensação de que a gente sabe para onde está indo e por quê.
http://colunas.epoca.globo.com/trabalhoevida/2010/04/14/defenda-a-sua-zona-de-conforto/

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